Racismo dificulta tratamento da doença falciforme

*Marcela Brito

De acordo com a Associação de pessoas com doença Falciforme e Talassemia de Minas Gerais (Dreminas), 95% dos pacientes acompanhados são negros

Desde as primeiras pesquisas relacionadas à doença falciforme até a implementação de políticas públicas voltadas para a doença, há um hiato de 92 anos. O intervalo, superior ao de outras doenças com menor incidência, evidencia o racismo sofrido por esses pacientes, de acordo com a presidente da Associação de Pessoas com Doença Falciforme e Talassemia do Estado de Minas Gerais (Dreminas), Maria Zenó.

Essas e outras questões foram discutidas durante o seminário “Doença Falciforme – Conhecer para Cuidar: os múltiplos olhares no enfrentamento e combate ao racismo”, realizado em 4 de abril. O evento foi promovido pelo Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio e Diagnóstico (Nupad) e pela Dreminas, com o apoio da Prefeitura Municipal de Contagem/MG.

A doença falciforme é diagnosticada pelo exame de triagem neonatal – o teste do pezinho – e requer atendimento multidisciplinar, com profissionais de diferentes áreas da saúde. A hematologista da Fundação Hemominas, Patrícia Santos Resende Cardoso, conta que a doença altera o formato das células do sangue – as hemácias – podendo provocar sintomas como a anemia, crises de dor, pneumonias, entre outros.

No entanto, o racismo institucional, que contribui para a invisibilidade da doença, ainda hoje reflete no atendimento recebido por pacientes com a doença. A presidente da Dreminas relata que é comum casos ligados à descrença do relato de dor do paciente.

Rede de cuidado

Mesmo com os protocolos para o tratamento da enfermidade, que vão desde o uso de medicamento até casos de transplante de medula óssea, muitos profissionais da área da saúde ainda acreditam que pessoas com a doença são tratadas exclusivamente nos hemocentros. Entretanto, a enfermeira da Rede de Atenção à Saúde de Contagem/MG, Ana Maria Viegas, destacou que esses pacientes são integrantes da rede de cuidado e que devem ser reconhecidos desta forma.

Enfrentamento

Além de destacar os impactos do racismo, o evento também debateu a importância de confrontar essa prática discriminatória. De acordo com ex-secretária de Estado de Educação de Minas Gerais, mestre em educação pela UFMG e assistente social, Macaé Maria Evaristo, há registros de práticas de enfrentamento ao racismo no período da escravidão. Exemplo é a Irmandade da Boa Morte, movimento que surgiu na Bahia e lutou pelo direito de poder enterrar corpos de entes queridos e companheiros.

Para a assistente social, nos dias atuais, a luta é evidenciada em movimentos que buscam uma vida mais digna para a população negra, o que incluí os portadores da doença falciforme.