Desafios da Atenção Primária e Medicina de Família em debate no Congresso

*Notícia publicada no site da Faculdade de Medicina da UFMG.

Prevenção quaternária, medicina centrada na pessoa e tomada de decisão compartilhada são alguns dos temas que serão abordados no eixo temático “Atenção Primária: Medicina de Família e Comunidade”, que integra a programação do 4º Congresso Nacional de Saúde.  O Congresso será realizado em agosto na Faculdade de Medicina da UFMG, e contará com mesas-redondas e palestras divididas em três eixos principais e um transversal, além de simpósios internacionais.

Professor Nathan: “Atenção primária engloba promoção, prevenção, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos”. Foto: Carol Morena
Professor Nathan: “Atenção primária engloba promoção, prevenção, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos”. Foto: Carol Morena

De acordo com o professor Nathan Mendes Souza, coordenador do eixo e especialista em Medicina de Família e Comunidade, a Atenção Primária à Saúde (APS) é a porta de entrada das pessoas ao Sistema Único de Saúde (SUS). Localizada em Unidades Básicas de Saúde (UBS), conhecidas popularmente como postos ou centros de saúde, a APS tem capacidade de resolver de 80% a 92% dos problemas de saúde da população. “Não se trata apenas da promoção da saúde: a atenção primária engloba promoção, prevenção, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos”, explica o professor.

Ele ressalta que o cuidado oferecido na APS é integral: são tratadas as partes biológica, psicológica, social e até mesmo espiritual. “Além disso, o tratamento é longitudinal: o médico de família e comunidade é o profissional que atenderá o paciente durante toda sua vida. A equipe de saúde da família também deve saber coordenar o cuidado, encaminhando o que não for passível de resolução”, indica.

Para ele, os profissionais da APS também devem ter o cuidado em entender de onde a pessoa vem, como é estruturada sua família e até como é a cultura em que está inserido. “É preciso entender a fundo o que pode estar causando ou contribuindo para o adoecimento da pessoa enferma e como esta experiencia o seu adoecimento”, acredita Nathan.

Níveis de atenção

O coordenador do eixo ressalta que, no Brasil, o sistema de saúde é dividido em três níveis de atenção: primária, secundária e terciária. Responsáveis por cuidados de especialistas focais, procedimentos  invasivos e de mais tecnologia dura, estão, respectivamente, a atenção secundária e terciária.

De acordo com o professor, a APS gera maior resolubilidade, maior satisfação das pessoas, diminui iniquidades em saúde e tem maior custo e benefício, pois evita que problemas resolvíveis no posto de saúde sejam tratados em hospitais. “Se houver maior investimento em hospitais, o sistema de saúde torna-se insustentável”, avalia.

Ele ainda acrescenta que os cuidados prestados na APS buscam ser mais centrados na pessoa, família e comunidade. “Quando uma pessoa busca um médico que não é da atenção primária, nem sempre o profissional vai atender de acordo com o que ela necessita”, comenta. Para ele, a falta de conhecimento sobre a pessoa, sua família e comunidade e o comprometimento com outros interesses, como por exemplo, interesses comerciais, podem prejudicar o atendimento.

Ensino na UFMG

Em 2014, as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Medicina protocolaram a obrigatoriedade do ensino da Atenção Primária à Saúde. No curso de Medicina da UFMG, 30% da carga horária é voltada para APS. “Existe muito desconhecimento sobre esse assunto no Brasil, porque é muito recente. Em quase 108 anos de Faculdade, os alunos finalmente estão aprendendo sobre APS”, comemora o professor Nathan.

As quase 45 mil equipes de Saúde da Família no Brasil, majoritariamente são formadas por médicos generalistas (sem especialização ou residência) e especialistas em determinadas áreas (pediatras, ginecologistas, clínica médica) e, em apenas quatro mil equipes, por médicos de família e comunidade. As equipes contam também com enfermeiros e agentes comunitários de saúde (responsáveis por visitas domiciliares a fim de entender por completo como as pessoas, famílias e comunidades vivem). Há também a Equipe de Saúde Bucal e o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF).

Para Nathan, a modificação do currículo do ensino é muito positiva, já que no cenário atual menos de 10% das equipes de ESF têm um médico especializado em APS. “90% das equipes está despreparada. Cada equipe atende de 4 a 6 mil pessoas. O ideal seria 2 mil. Isso é grave, pois afeta muito a qualidade do serviço oferecido. Não há médicos de família e comunidade em número suficiente”, explica. O professor acredita que além do desconhecimento, muito preconceito ainda ronda a APS. “As pessoas não querem trabalhar na APS como médicos de família e comunidade por desconhecimento e pela baixa valorização social desta essencial área de atuação profissional. Não há tanto prestígio em ser médico de família e comunidade como há em outras especializações”, considera o professor.

Congresso Nacional de Saúde

A 4ª edição do Congresso será realizada do dia 28 a 30 de agosto de 2017, na Faculdade de Medicina da UFMG, com o tema “Promoção da Saúde: Interfaces, Impasses e Perspectivas”. As inscrições para submissão de trabalhos e participação como ouvintes podem ser feitas com desconto até o dia 2 de junho.

O Congresso Nacional de Saúde é direcionado a um público multidisciplinar, composto de profissionais de diversas áreas da Saúde e correlatas, tanto do setor público quanto do setor privado, em especial professores, técnicos e estudantes, bem como agentes da saúde. A previsão da comissão organizadora é reunir 600 pessoas.

O 4º Congresso Nacional da Saúde integra ainda a programação das comemorações dos 90 anos da UFMG, celebrados em 2017.

Mais informações e inscrições na página do 4º Congresso Nacional de Saúde.

*Redação: Alice Leroy – estagiária de jornalismo
Edição: Mariana Pires