Evento contra o racismo traz música e debate para o campus Saúde

O racismo institucional, no contexto da doença falciforme, foi tema de debate do cortejo de descomemoração do 13 de maio

Evento contou com o cortejo de Maracatu do grupo Bombos de Iroko. Foto: Carol Morena

A segunda edição do “Cortejo de (des)comemoração do 13 de maio”, aconteceu na tarde dessa sexta-feira, 18 de maio, no campus Saúde da UFMG. O evento contou com a participação do cortejo de Maracatu do grupo Bombos de Iroko, seguido de uma roda de conversa que trouxe a discussão do racismo institucional no contexto da doença falciforme.

Com promoção do Grupo Técnico Racismo Institucional, que faz parte do Centro de Educação e Apoio para Hemoglobinopatias (Cehmob-MG), o evento lembra a data que marcou a abolição da escravatura no Brasil.

O estagiário do grupo e estudante de psicologia na UFMG, Vinícius Theófilo, explicou que “o movimento negro toma essa data de 13 de maio e a ressignifica com a ideia de trazer consciência de quais lugares o negro ocupa na sociedade hoje”. “Fazer esse evento na Faculdade é muito simbólico, porque quase não se veem negros aqui e, assim, discutir sobre racismo é ainda mais difícil. É importante ter uma presença negra denunciando isso”, pontuou Theófilo.

A coordenadora do Grupo Técnico Racismo Institucional, Janaína Neres, por sua vez, enfatizou a relevância desse debate sobre racismo em relação a doença falciforme. “Para cada 30 crianças que nascem, uma tem traços da doença falciforme, que é uma doença com prevalência na população negra”, explica.  “O racismo é expresso no atendimento, que às vezes não é conduzido de forma adequada, na invisibilidade da própria doença e no tratamento diferenciado que as crianças têm no ambiente escolar”, informou.

A roda de conversa teve o objetivo de debater o racismo institucional no contexto da doença falciforme. Foto: Carol Morena

De acordo com a enfermeira do projeto Linha de Cuidados, Aline Poliana, responsável pela roda de conversa, essa falta de conhecimento também é um dos fatores mais cruciais no atendimento do paciente, já que o “descaso em relação à enfermidade se dá pela existência de um racismo velado”.

“O racismo institucional é forte e consistente para toda a população negra, independente da renda”, defendeu Aline. “Uma crise de dor do paciente pode ser comparada à dor de um paciente terminal de câncer. Se as drogas mais fortes são utilizadas nesse caso, elas não deveriam ser negadas para os pacientes com doença falciforme”, prosseguiu.

A roda de conversa também trouxe discussões acerca da confusão de diagnóstico, taxa de desemprego das pessoas acometidas, características e sintomas da doença.

Desconhecimento e negligência no tratamento da doença Falciforme

Para a assessora acadêmica do Nupad, Kellen Lima, os profissionais da saúde não terem conhecimento da doença é um grande problema. “Trabalho no Nupad há 23 anos e desde 1998 com a doença falciforme. Observo que os alunos não têm ciência de como lidar com essa patologia”, afirmou.

“O profissional, muitas vezes, desconhece a doença falciforme, porque ele não viu na graduação. Eu, como enfermeira, conheci a doença em uma aula de genética, assim como vi outras doenças genéticas. Mas o impacto disso na população não é estudado”, acrescentou Aline Poliana.

A Janaína Neres ainda acentuou que “se o paciente for atendido de maneira negligente, podem ser causados danos maiores à saúde e, até mesmo, o óbito, o que poderia ser evitado com um tratamento correto”.