Racismo institucional aumenta desigualdade no acesso da população negra à saúde

*Marcela Brito

O termo foi definido em 1967 por integrantes do grupo Panteras Negras, Stokely Carmichael e Charles Hamilton. No entanto, ainda hoje o racismo institucional continua a trazer impactos para a saúde da população negra. Isso porque a ideia de que existe uma raça inferior a outras dentro das organizações pode levar a desigualdades no acesso aos serviços de saúde e ao aumento da mortalidade dessa população.

De acordo com a pedagoga do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina (Nupad), que promove curso sobre racismo institucional, Janaina Neres, normalmente o racismo se manifesta de forma velada, por meio de comportamentos discriminatórios no cotidiano. “O atendimento desrespeitoso ocorre desde a portaria, a triagem, até o atendimento médico, o que leva a desigualdades no atendimento. Também existe a dificuldade de acesso, uma vez que a população negra mora em lugares mais distantes, com pouco acesso a transporte de qualidade”, explica.

Campanha do Ministério da Saúde alerta para racismo nas unidades de saúde. Foto: Ministério da Saúde.

Um estudo publicado no Relatório Socioeconômico da Mulher (Raseam) revela que grávidas negras e pardas têm menos acesso às consultas de pré-natal em relação às mulheres brancas. “Muitas vezes, ao chegar ao serviço de saúde, a mulher não é bem atendida e decide não voltar por conta do atendimento”, comenta o estudante de Psicologia da UFMG e integrante do projeto Doença Falciforme: linha de cuidados de atenção primária à saúde, do Nupad, Vinícius Theofilo.

Para a professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, Regina Amélia Aguiar, “o preconceito da cor também representa maior risco à qualidade do serviço”, uma vez que se manifesta por meio da omissão de informações importantes e negligências médicas. A integrante do Grupo de Estudo sobre Negritude e Interseccionalidade (Geni), da Faculdade de Medicina da UFMG, Maysa Teotônio, ressalta que pesquisas mostram que as mulheres negras recebem menos analgesia durante a assistência ao parto do que a necessária por serem consideradas mais fortes.

Para desmitificar crenças como essa, Maysa Teotônio destaca a necessidade de mais pesquisas voltadas para identificar as especificidades dessa população. “Os estudos sobre a população negra podem nos auxiliar a identificar o problema, apontar as incoerências sociais e raciais presentes no nosso país e, principalmente, buscar soluções para esse problema de saúde pública”, avalia. A pedagoga do Nupad, Janaina Neres, também destaca a importância de profissionais preparados. “É necessário que o profissional de saúde reconheça e valorize as especificidades em relação à saúde da população negra para que sejam pensadas ações mais efetivas para esse público”, conclui.

Racismo Institucional: doença falciforme e seus contextos sociais

Com o objetivo de promover ações de conscientização sobre racismo institucional no âmbito da saúde e combatê-lo em diferentes instâncias, o Nupad desenvolve o projeto “Racismo Institucional: doença falciforme e seus contextos sociais”. A partir deste ano, o projeto atua como atividade de extensão da Faculdade, com financiamento do Ministério da Saúde. Até 2017, o projeto funcionava com parceria entre Nupad e Fundação Hemominas, sem financiamento.

 

*Marcela Brito – estagiária de Jornalismo