Continuidade no cuidado da pessoa com doença falciforme

Métodos contraceptivos, atenção à gestante e medidas preventivas para a criança com doença falciforme foram assuntos abordados durante mesa-redonda no segundo dia da Jornada Mineira de Atenção Primária à Saúde, realizada em Belo Horizonte nesta sexta, 13 de setembro, no Hotel Ouro Minas.

Crédito: Bruna Carvalho
Crédito: Bruna Carvalho

Contracepção

A médica ginecologista e obstetra do Hospital das Clínicas, Regina Amélia Aguiar, destacou a reprodução humana para a pessoa com doença falciforme a partir da apresentação dos métodos de prevenção da gravidez. Segundo Regina, o profissional de saúde deve ter conhecimento das particularidades da doença falciforme, como as intercorrências mais comuns e questões de fertilidade, para orientar sobre o planejamento familiar: “Todos os indivíduos têm o direito de fazer suas escolhas, sobre ter ou não filhos, quantos e em que momento. Para isso, precisam se informar para tomar as decisões com responsabilidade”.

Regina citou os tipos de métodos contraceptivos que, segundo o Ministério da Saúde, compreendem quatro grupos: com ausência de restrição de uso, com benefícios que superam os riscos, com riscos que superam benefícios e, finalmente, os métodos cujos riscos são inaceitáveis. Apesar de não existirem métodos sem risco, há aqueles mais seguros que costumam ser muito eficazes, como os implantes ou injetáveis com combinados mensais: “O cuidado é essencial, pois vida sexual saudável implica sexo seguro”.

Gestante

O fluxo do cuidado da gestante com doença falciforme deve passar pela atenção primária à saúde (APS), atenção secundária no pré-natal de alto risco (PNAR), centros hematológicos e maternidade, explicou a obstetra Vanessa Fenelon, do Centro de Educação e Apoio para Hemoglobinopatias (Cehmob-MG). A APS é responsável pelo diagnóstico precoce da gestante com doença falciforme, pelos exames de rotina e direcionamento para o PNAR. “O encaminhamento para a atenção secundária não representa o abandono da APS, pois a atenção básica deve acompanhar a paciente de forma contínua”, afirmou Vanessa.

Durante o pré-natal, as histórias clínica e obstétrica da mulher definem a conduta dos profissionais junto à gestante: “Cabem as orientações sobre como lidar com as infecções, crises de dor e síndrome torácica aguda, complicações comuns na doença falciforme”. O controle das imunizações, exames e avaliação renal também ocorrem durante o pré-natal.

A profissional apresentou ainda o Projeto Aninha, iniciativa do Cehmob-MG criada em 2007 para a atenção à gestante com doença falciforme: “O maior ganho que temos com o Aninha é a discussão de casos individuais entre obstetras e hematologistas para a decisão dos melhores métodos de tratamento junto à futura mãe”.

Vanessa Fenelon fala do cuidado com a gestante
Vanessa Fenelon fala do cuidado com a gestante. Crédito: Bruna Carvalho

“Nosso foco nesta Jornada é trabalhar o planejamento e a organização da Rede de Atenção Integral à pessoa com doença falciforme”, observou a médica e hematologista da Fundação Hemominas e do Cehmob-MG, Célia Maria Silva.

Ao tratar da integração necessária entre APS e atenção secundária, a médica apresentou as ações da Fundação Hemominas, centro de referência no atendimento e acompanhamento multidisciplinar do paciente com doença falciforme: “Realizamos o cadastro dos pacientes, desenvolvemos protocolos, capacitação técnica, eventos e material didático, além de pesquisa clínica”. Como destaque, está a realização do exame do doppler transcraniano, capaz de detectar o risco do acidente vascular cerebral em crianças com a enfermidade. “Esse exame é muito importante e quanto mais crianças puderem realizá-lo, mais vidas poderemos salvar. É responsabilidade de todos nós, profissionais, contribuirmos para o fluxo correto da atenção à infância”.

No compartilhamento dos cuidados, cabe à APS a avaliação e controle inicial da criança, com o atendimento dos eventos agudos da doença falciforme, agendamento de consultas especializadas e exames. “O eixo da assistência primária à infância deve contemplar a prevenção, promoção, acolhimento e acompanhamento”, destacou a enfermeira da Saúde da Família de Contagem, Vitória Fuji. Como exemplo dessa assistência estão as visitas domiciliares, as consultas odontológicas e de enfermagem e os grupos educativos.

Crédito: Bruna Carvalho
Crédito: Bruna Carvalho

Como explicou a enfermeira, a doença falciforme exige um calendário de atenção diferenciado, mais intenso e próximo da criança: “O esquema de vacinação é diferenciado e as consultas seguem um fluxo constante, primeiramente trimestral e depois a cada seis meses. A família precisa ser orientada de forma clara para auxiliar nesse acompanhamento.”