Grupo Racismo Institucional realiza primeira oficina de formação

Com o objetivo de alinhar o conhecimento teórico e prático sobre o racismo institucional na saúde, o Grupo Técnico (GT) Racismo Institucional, do Cehmob-MG, realizou no dia 23 de junho a primeira oficina de formação com o tema Racismo Estrutural/Institucional e Saúde: dinâmicas de funcionamento. A atividade, realizada na Faculdade de Medicina da UFMG, foi aberta à participação de colaboradores de instituições parceiras.

Grupo se reuniu na sala Amílcar Vianna. Foto: Carol Morena.
Grupo se reuniu na sala Amílcar Vianna. Foto: Carol Morena.

Militante do movimento negro, historiador, filósofo e pesquisador na área cultural, Marcos Cardoso coordenou as discussões. Segundo ele, para abordar o racismo nas instituições é necessário, primeiramente, conhecer a história e cultura africanas: “Nós não aprendemos, não sabemos nada do continente mãe, a África. Isso faz parte do processo de invisibilização dessa história”. O desconhecimento resulta nas imagens de uma África exótica, afundada na miséria e pontuada pelo mal, mitos que, de acordo com Marcos, soam como verdades para grande parte da população. “É preciso desconstruir esse entendimento”, ressaltou.

Compreender o processo de escravização dos negros é outro ponto a ser considerado no debate. Na opinião do historiador, não é possível pensar no negro apenas enquanto mão-de-obra, esquecendo-se do aporte cultural trazido por essa população, com conhecimentos na área da agricultura e saúde, entre outros. “Cultura é tudo que produz sentido para sua existência: modo de andar, de vestir, relacionar-se com a natureza. Isso é descriminado, desvalorizado, por isso é fundamental para se entender o racismo”, pontuou.

Além da cultura, o pesquisador citou a saúde como o segundo espaço para a reflexão. Nesse sentido, o Sistema Único de Saúde (SUS), que preza pelo princípio da equidade no atendimento, também reproduz a discriminação: “Mesmo no SUS você constata a assimetria das condições oferecidas para a população quem tem e não tem recursos”. A fim de melhorar essas condições de serviço, Marcos considera essencial o processo de formação de profissionais negros: “O racismo estrutural não envolve só aquela pessoa na ponta, mas desde o início, no processo de formação de médicos e outros profissionais de saúde”.

“Ampliar o olhar”

Marcos Cardoso foi o convidado da primeira oficina de formação do GT Racismo Institucional. Foto: Carol Morena.
Marcos Cardoso foi o convidado da primeira oficina de formação do GT Racismo Institucional. Foto: Carol Morena.

Para Marcos Cardoso, iniciativas como a do GT Racismo Institucional contribuem para “ampliar o olhar” do indivíduo e acrescentam a subjetividade na reflexão. “São duas as pontas consideradas, a estrutura e a subjetividade. Devo estar aberto ao debate, perguntar onde guardo o meu racismo”.

Na opinião da assistente social do Nupad, Graziela Maria, participante do GT desde seu início, a atividade contribuiu para a qualificação técnica do grupo ao trazer conhecimentos sobre a dinâmica do racismo em sua totalidade histórica. “Nosso objetivo é que atividades como essas sejam um eixo transversal a todos os projetos da instituição. Por isso, a representatividade de pelo menos uma pessoa de cada projeto e setor é necessária para fortalecer as ações de combate e enfrentamento ao racismo institucional”, ressaltou.

A previsão é que novas oficinas de formação sejam realizadas mensalmente, sempre com a presença de um convidado externo e aberta à participação de colaboradores das instituições parceiras.

GT Racismo Institucional

Criado pelo Cehmob-MG em 2015, o grupo é formado por representantes do Nupad, Fundação Hemominas e Associação das Pessoas com Doença Falciforme e Talassemia de Minas Gerais (Dreminas) e tem como proposta discutir e elaborar ações educativas de sensibilização, enfrentamento e combate ao racismo no cotidiano dessas instituições.