Estudo identifica proteína que auxilia o diagnóstico precoce de complicações da doença falciforme

Resultado é da pesquisa finalista no terceiro maior congresso de hematologia do mundo, o HEMO 2018 – Congresso Brasileiro de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular

*Marcela Brito

Ilustração de glóbulos vermelhos no sangue, com hemácias saudáveis e em formato de foice, caracterizando a anemia falciforme
Arte: CCS – Medicina / UFMG

Portadores da anemia falciforme, doença causada pela alteração no formato dos glóbulos vermelhos, estão mais suscetíveis a desenvolverem diversos tipos complicações durante a vida. Dentre elas, a nefropatia – doenças ou o dano do rim – chama atenção por sua gravidade, já que podem levar ao quadro de doença renal crônica terminal e, com isso, a necessidade de diálise ou até de transplante. Mas existe uma proteína, a albuminúria, que auxilia no diagnóstico precoce dessas complicações e é alvo de pesquisa do Programa da Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da UFMG.

Em projeto, ainda em andamento, os pesquisadores buscam verificar a ocorrência de complicações através da investigação de albuminúria e também da hiperfiltração do sangue. Presente no plasma sanguíneo, a albumina é uma proteína sintetizada no fígado e responsável por tarefas como a manutenção da pressão osmótica – pressão que deve ser exercida para impedir que a osmose ocorra de maneira espontânea -, e o controle do pH. Se eliminada pela urina, pode ser sinal que a função renal está comprometida, o que configura a albúminuria.

Já a hiperfiltração é caracterizada pelo ritmo de filtração do sangue pelos rins. “Quando se aumenta essa condição, é gerado um estresse ainda maior para os glomérulos que estarão sempre trabalhando acima do valor basal ideal. Com o tempo, essa situação pode levar a complicações muito graves, podendo necessitar até de transplante”, explica o pesquisador do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da UFMG (Nupad), Wallyson Planes, que é um dos autores do estudo.

De acordo com ele, o estudo analisa a associação da ocorrência de complicações e presença de albumina com idade, gênero, dados hematológicos, bioquímicos e genético dos pacientes. Um dos resultados mais expressivos foi a comparação das idades dos pacientes com a relação albumina/creatinina. A correlação foi significativa, isto é, à medida que a idade dos pacientes aumenta, o nível de albumina na urina também aumenta.

“O resultado é importante uma vez que a presença de albumina na urina demonstra um comprometimento da função renal, e seu aumento com o tempo mostra que esse comprometimento é progressivo. Daí vem a importância de se conseguir avaliar esses parâmetros de forma precoce”, declara Wallyson.

Na avaliação entre a redução da ocorrência de albuminúria e a presença da co-herança  de alfa-talassemia também houve uma associação significativa. Esse resultado mostra que pacientes portadores de anemia falciforme que possuem a alfa-talassemia têm sua função renal mais preservada em comparação a quem somente possui a anemia falciforme. A avaliação demostra que a alfa-talassemia é um fator de proteção para a albuminúria. Segundo o pesquisador, o estudo destes aspectos pode contribuir para um melhor manejo clínico destes pacientes. “Assim, garante-se prognóstico mais preciso e, provavelmente, a possibilidade de intervenção terapêutica para melhorar a qualidade de vida”, completa.

Para a realização da pesquisa, foram analisadas 497 crianças, sendo 253 (50,9%) do sexo masculino e 244 (49,1%) do feminino até o momento. Foram feitos testes bioquímicos, como dosagens de albumina e creatinina em amostras de urina, técnicas de biologia molecular como extrações de DNA de amostras de buffy coat, PCRs, restrições e eletroforeses. De acordo com o pesquisar, a intenção é confirmar a presença do alelo mutado da anemia falciforme e possíveis interações com outras doenças que afetam a hemoglobina, como a alfa-talassemia.  

Estudo: Estudo da prevalência e fatores de risco de hiperfiltração glomerular, microalbuminúria e proteinúria em crianças com anemia falciforme acompanhadas na Fundação Hemominas
Programa: Programa da Saúde da Criança e do Adolescente.
Autores: Ana Cristina Simões e Silva, Paulo do Val Rezende, Fabíola Gomes Mendes, Luciana de Almeida Costa, Jéssica Alves de Almeida, Wallysson da Rocha Planes, Déborah Maria Moreira da Silva.
Professores: Marcos Borato Viana, André Rolim Belisário

*Marcela Brito – estagiária de Jornalismo
Edição – Karla Scarmigliat