Mais uma história de superação no Projeto Aninha

Com 45 cm e 2,7 kg nasceu Ingrid, no fim de agosto, com nove meses de gestação. Ingrid é filha de Iande Neiriana de Oliveira, de 27 anos, moradora do município de Pedra Azul, e mãe do Isaac, que já tem quase três anos. Iande é paciente de doença falciforme, e foi acompanhada, durante a gestação de Ingrid, pelo Projeto Aninha, do Centro de Educação e Apoio para Hemoglobinopatias (Cehmob-MG).

Crédito: Bruna Carvalho
Crédito: Bruna Carvalho

Aos cinco meses de gestação, Iande mudou-se para Belo Horizonte, e passou a morar em uma pensão disponibilizada pelo município. Isso foi necessário porque as viagens para a capital eram longas e havia necessidade frequente de consultas médicas, transfusões e exames. Distante do contato familiar, Iande recebeu apoio da equipe do Cehmob-MG e da Associação de Pessoas com Doença Falciforme e Talassemia de Belo Horizonte e Região (Dreminas), instituição de controle social que luta pelos direitos das pessoas com doença falciforme.

Após uma intercorrência que exigiu 15 dias internação aos sete meses de gravidez, Iande ficou hospedada, até o nascimento de Ingrid, na casa da presidente da Dreminas, Maria Zenó. Ao longo desse tempo surgiu uma forte relação de amizade. “O nosso sangue bateu”, brinca Iande.

“Iande passava por um momento difícil. A vinda do interior, a distância do marido e dos filhos. Procurei dar suporte de mãe”, lembra Zenó, que também tem a doença falciforme. “Também sou mulher, e mãe. Sei na pele o que ela passou, e o risco que corria”, compara.

“Não dá para separar a Zenó da Dreminas”, relata Zenó, sobre o envolvimento com as Aninhas, como são chamadas as gestantes do projeto. “O trabalho da Associação é de paciente para paciente. E, neste caso, foi o controle social que fez a articulação com o município, não o gestor. O município de Pedra Azul atendeu todas as nossas solicitações”, explica. Para ela, o apoio da Dreminas e das equipes de acompanhamento do Cehmob-MG e dos hospitais foram determinantes para melhoria da qualidade de vida e do quadro emocional de Iande,  favorecendo que ela chegasse aos nove meses de gravidez e tivesse um parto saudável, sem maiores complicações.

Com Ingrid no colo, Iande prepara-se para voltar para sua cidade, onde o filho, marido e mãe a esperam. A relação construída entre Iande e Zenó tornou-se tão forte que em janeiro a presidente da associação viajará à Pedra Azul para o batizado de Ingrid, junto com a filha Teyte, convidada para ser madrinha da criança. “Minha filha a acompanhava nas consultas, dormiam no mesmo quarto. Viramos uma família”, orgulha-se Zenó.

Segunda Família

Assim como para Zenó, para a acadêmica de psicologia do Cehmob-MG, Camila da Cruz, é  inevitável a criação do vínculo com as Aninhas. “Acompanhamos a gestação delas, não tem como ficar neutra. Eu ficava na Brinquedoteca e conversava com elas. Então, percebi a importância das intervenções em espaços informais, como aquele”, conta Camila.

De acordo com a estudante, o acompanhamento no hospital fortalece ainda mais esse vínculo. “O ambiente muda, e com ele, o contexto. Surgem as inseguranças, ansiedade”, relata. Nesse momento, o acompanhamento psicológico e social deve ser ainda mais integrado entre as instituições, mantendo supervisão e contato constante com o paciente. “Foram anjos no meu caminho, que sempre estavam à disposição. Considero minha segunda família”, agradece Iande, referindo-se às equipes do Cehmob, Dreminas e Hospital Odilon Behrens.

Para Mérupe Romanini, psicóloga do Cehmob-MG, otimismo e  disposição são características marcantes em Iande. “Ela enfrenta rapidamente as situações que aparecem demonstrando uma capacidade de superação que chama a atenção”, afirma.

Iande lembra que, tanto nos momentos em que estava na pensão quanto na casa de Zenó, ela passava grande parte do tempo no Cehmob e da Dreminas.”Me sinto bem, em casa. Ajudei a fazer a festa junina, ajudava como secretária e tenho uma pasta cheia de desenhos das crianças para levar para casa”, conta. “Foi com essa base que consegui chegar até o fim. Se eu pudesse dar um conselho a todas as gestantes com doença falciforme, seria o de procurar essas pessoas”, recomenda.

Capacitação e atenção integral

Equipe do Cehmob-MG comemora nascimento de Ingrid. (Crédito: Bruna Carvalho)
Equipe do Cehmob-MG comemora nascimento de Ingrid. (Crédito: Bruna Carvalho)

Lembrando as dificuldades passadas por Iande, a psicóloga ressalta que um dos objetivos do Projeto Aninha é a transmissão e troca de conhecimento. Segundo Mérupe, a proposta atual é a capacitação de serviços distribuídos pelo estado para que a assistência possa acontecer o mais perto possível da residência, de forma integral e adequada.

“Os serviços de saúde devem estar preparados para atender essas mulheres. As equipes da atenção primária, secundária e terciária têm que conversar entre si. Além disso, são necessárias ações intersetoriais”, explica. Com esse foco, o projeto já realizou três seminários à distância para profissionais do Estado.