O Centro de Educação e Apoio para Hemoglobinopatias (Cehmob-MG) promoveu, entre os dias 16 e 20 de novembro, em comemoração ao Mês da Consciência Negra, a “Semana de Atividades – Racismo Institucional”, com oficinas, roda de conversa, vídeos e relatos de pessoas com doença falciforme que já sofreram racismo nas instituições de saúde. Participaram das atividades todos os parceiros do projeto: Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (Nupad), Fundação Hemominas, Associação de Pessoas com Doença Falciforme e Talassemia do Estado de Minas Gerais (Dreminas) e Cehmob-MG.
Segundo a coordenadora do Grupo Técnico do Racismo Institucional do Cehmob-MG, Ruth Santos Fontes, as oficinas promoveram um espaço libertador, tanto para quem já sofreu ou sofre atitudes racistas, quanto para quem, de forma velada ou não, também reproduz o racismo. “A ideia é que os participantes possam se tornar multiplicadores da temática em outros espaços que ocupam, para além do seu setor de trabalho, mas para a vida pessoa, familiar e como cidadãos frente a uma sociedade racista”, explica.
Oficina discute prevalência do racismo no Brasil
Na quinta-feira, 19, houve uma roda de discussões sobre autoconhecimento e empoderamento sobre o Racismo Institucional e a importância do Mês da Consciência Negra. As conversas foram mediadas pela convidada, Benilda Brito, coordenadora do N’zinga – Coletivo de Mulheres Negras e pela presidente da Dreminas, Maria Zenó Soares. Na ocasião, discutiu-se a prevalência do racismo no Brasil e os impactos dele para o atendimento no sistema de saúde.
O racismo institucional é definido como um sistema de desigualdade baseado na raça e que ocorre em instituições como órgãos públicos, corporações empresariais privadas e universidades. Maria Zenó iniciou o encontro exibindo um vídeo em homenagem às pessoas que tiveram suas vidas interrompidas pela marginalização do atendimento básico causada pelo preconceito racial. “O racismo institucional hoje decide no Brasil quem vive e quem morre”, disse Zenó.
Em seguida, Benilda iniciou a roda de conversas convidando os presentes a se abrirem para uma mudança no olhar sobre o racismo no território brasileiro. “O que eu quero fazer esta manhã é provocar o aprofundamento dessas discussões que vocês já estão tendo aqui sobre a situação do racismo no Brasil e a nossa responsabilidade de enfrentar esse problema. Isso é extremamente difícil, porém necessário, porque o Brasil é um país extremamente racista, no qual o racismo é negado o tempo inteiro”, disse. Partindo de um resgate histórico, desde as práticas ocorridas no período da escravidão, a coordenadora demonstrou como, apesar dessa negação, o racismo ainda é presente na sociedade. Ela relembrou casos recentes e marcantes, como a chegada de médicos cubanos ao país, em sua maioria negros, que foram recebidos com vaias e bananas no aeroporto. Além disso, ela apresentou dados que revelam a prevalência de negros na população carcerária, que também são maioria em meio aos assassinatos de jovens.
Benilda falou, ainda, sobre as pequenas atitudes que revelam práticas racistas, que muitas vezes acontecem até mesmo de maneira inconsciente, como um tratamento diferenciado, ou comentários supostamente inofensivos. Segundo ela, essas práticas estão naturalizadas no imaginário da maioria das pessoas, devido a uma construção histórica baseada no preconceito racial. “O problema é quando, mesmo após perceber essas falhas, a pessoa insiste em não mudar sua visão preconceituosa”, afirmou. Por fim, Benilda discutiu com os presentes sobre a importância do fortalecimento da identidade positiva negra. Ela questionou produções midiáticas que insistem em manter atores negros em papéis de criminosos, empregadas domésticas e nunca em posição de poder. Segundo ela, essa falta de representatividade, junto com a opressão diária sofrida desde a infância, é responsável por limitar as perspectivas de futuro dessa população. “Nessas representações você congela na cabeça desses jovens um estereótipo que é disseminado, você não tem nada que resgate a história da população negra, nada que mostre que o preto pode ser médico, diplomata, ou o que quiser”, revelou. Ela destacou a importância de movimentos e políticas que busquem mudar esse imaginário. “É por isso que a gente briga com a escola, pra não mostrar só essa imagem negativa. É por isso que a gente marcha, vai às ruas, pra que as pessoas se identifiquem e pensem que elas ali, com o cabelo crespo, o nariz chato, podem sim estar ali, ocupando esses lugares que nos são constantemente negados”, concluiu.
Oficina “Vista a minha Pele”
Na terça-feira, 17, na parte da tarde, houve a oficina “Vista a minha pele”, sob a orientação de Kelen Cristina, coordenadora do setor de Setor de Tradução e Relações Internacionais (Setri) do Nupad, e Leandro Viana, supervisor do Laboratório da Triagem Neonatal do Nupad. A atividade foi iniciada com o questionamento “O que vocês entendem por pele?”. A resposta foi unânime: cada um, à sua maneira, disse que a pele é um órgão de revestimento e proteção e que a cor não deveria importar tanto.
Em seguida, foi apresentado o curta brasileiro Vista a minha Pele, com o objetivo de mostrar o racismo existente em nossa sociedade, só que de uma forma invertida: a pessoa com pele branca que é marginalizada. A partir daí, os participantes entraram em uma roda de conversa dando exemplos próprios de situações de racismo. “Eu estou gostando muito da oficina. Estou aprendendo e vendo o quanto eu também, como negra, sou preconceituosa. Eu quero mudar esse conceito e essa semana está me ajudando muito”, disse Tatiane Fernandes, do Setor de Monitoramento do Cuidado (SMC) do Nupad, uma das participantes da oficina.