Vida social e escolar com a doença falciforme

Crédito: Bruna Carvalho

Os desafios e enfrentamentos do paciente com doença falciforme no dia a dia foram os temas abertos para debate na última mesa-redonda da Jornada Mineira de Atenção Primária, encerrada na sexta-feira, 13 de setembro, em Belo Horizonte.

Na escola, os desafios são das instituições e das famílias. A assistente social Cristiane Rust, coordenadora do Ceaps contou que um desafio é estabelecer um vínculo de confiança entre os dois agentes. “A família pode ter medo do preconceito e não-entendimento”, afirmou. Para a assistente social, ambos têm seus papéis: a escola precisa lidar com o diagnóstico com respeito, ética e sigilo. Cabe a ela levar entendimento à equipe, vencer preconceitos e inibir o bullying. Já a família também tem suas responsabilidades: buscar o diálogo, justificar faltas, apresentar relatórios e atestados médicos. “O que a gente percebe é um desconhecimento e despreparo, por falta de informação, para lidar com os alunos. O reflexo disso é a possibilidade grande da evasão”, lamenta Cristiane.

Ela lembrou ainda a realização do seminário Saber para cuidar, em junho de 2012, que resultou em um termo de cooperação técnica que firma o comprometimento de entidades do poder público das áreas de educação e saúde para melhorar a vida do paciente na escola. O projeto Saber para Cuidar, que tem o mesmo objetivo, já oferece oficinas de capacitação aos profissionais de educação e trabalha uma proposta de curso de educação à distância.

Assistência e Controle Social

Ronaldo Camargos e Fernanda Mantovani ,da Secretaria Municipal de Assistência Social de Betim (Semas), contaram aos presentes as experiências dos Centros de Referência em Assistência Social (Cras) do município. Os Cras são responsáveis pela organização e oferta de serviços de proteção social básica do Sistema Único de Assistência Social, e atendem cidadãos e grupos que se encontram em situações de vulnerabilidade e riscos. “Hoje a gente trabalha muito na perspectiva do direito que a população tem. Trabalhar a inclusão não é um favor para as famílias, mas sim fazer com que o cidadão acesse um direito que é dele, garantido em constituição”, explicou Ronaldo.

Fernanda compartilhou uma experiência de acompanhamento de uma mulher com doença falciforme que buscou um Cras do município com a demanda de conseguir acesso a transporte para a Associação de Pessoas com Doença Falciforme e Talassemia de Belo Horizonte e Região (Dreminas) e Fundação Hemominas. A articulação com rede socioassistencial do município e Dreminas, com elaboração de um plano de intervenção familiar, levou a uma superação da situação de vulnerabilidade social, melhorando a vida da família.

Representando a Dreminas, a presidente da associação, Maria Zenó, falou sobre o papel do Controle Social nas políticas públicas. “A participação social é direito e está na constituição. Não existe politica pública sem controle social”, afirmou.

Zenó lembrou um pouco da história da luta pelos direitos de pessoas com doença falciforme, iniciada nos movimentos negros. “A Dreminas é uma sociedade civil organizada, que como todo controle social tem o papel fundamental de apontar para o gestor que alguma coisa esta errada”, explicou. “Nós lutamos para que nossos direitos sejam respeitados. A entidade e o bem-estar das pessoas que nos procuram são as preocupações centrais da Dreminas”, garantiu.

Cuidado integralizado

Crédito: Bruna Carvalho

Educação e saúde em autocuidado, equipe multiprofissional e gestão foram os temas da mesa redonda “Atuação da Atenção Primária no Cuidado”, pela manhã, que reuniu três profissionais da Secretaria Municipal de Saúde para debater o tema.

Nas discussões, o empoderamento de conhecimento pela família, o desempenho do papel de cada profissional da atenção primária e a consciência do gestor foram levantados pelos palestrantes como ações fundamentais para a melhoria da qualidade de vida do paciente com doença falciforme.