Encontro do Racismo Institucional debate gênero e raça

Oficina de formação discutiu gênero e raça. Foto: Rafaella Arruda.
Oficina de formação discutiu gênero e raça. Foto: Rafaella Arruda.

A psicóloga Gilmara Mariosa, integrante do Núcleo Conexão de Saberes da UFMG e militante do Movimento de Mulheres Negras Candaces, foi a convidada da terceira oficina de formação do Grupo Técnico (GT) Racismo Institucional, do Cehmob-MG. O encontro aconteceu no dia 4 de agosto, no anexo 1 do Nupad (Edifício Medmax), e debateu questões de gênero e raça.

A especialista destacou a proposta do feminismo enquanto movimento de luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres. “Não é contrário do machismo”, declarou. Nesse sentido, segundo ela, o feminismo negro se apresenta como uma corrente à parte baseada no entendimento de que as mulheres não são todas iguais: “A mulher negra sempre trabalhou, de maneira forçada ou não, desde a escravidão”. Assim, enquanto a mulher branca luta pela ocupação do espaço público, como direito ao voto ou a trabalhar fora, a mulher negra luta pela ocupação do espaço privado. “A luta é pelo direito de ter uma casa e cuidar do seu próprio espaço”, ressaltou Gilmara.

O grupo falou também da relação entre a mulher e o próprio corpo. Como citou a psicóloga, anteriormente o prazer era considerado um pecado para a mulher branca enquanto, por outro lado, a mulher negra era estuprada e vista como um corpo acessível: “A mulher branca é tida como pura e frágil, já a negra como lasciva, forte, com menos capacidade de sentir dor”.

Para contemplar essas especificidades, o Movimento Negro cria o termo “feminismo interssecional”, conforme explicou Gilmara: “Ele diz das diferenças entre as mulheres. Discute raça, classe, sexualidade e religião”. De acordo com a psicóloga, essa vertente do feminismo busca atender aos chamados “atravessamentos de opressão” que atingem a todas as mulheres. “É considerado a terceira onda, abrange brancas, negras, lésbicas, transexuais, cisgêneros”, declarou.

Empoderamento

Durante a oficina, o GT debateu a importância do empoderamento no movimento negro. “Só me empodero em grupo, na coletividade. Ele é construído, não me é dado”, pontuou Gilmara.

Para a psicóloga, a contribuição do homem e mulher branca no combate ao racismo deve vir, primeiramente, a partir da escuta e da compreensão do cenário atual. “Não queiram falar por nós. É preciso ouvir e respeitar, reconhecer o racismo, depois, é vir para a luta com a gente”, concluiu.

GT Racismo Institucional

Criado pelo Cehmob-MG em 2015, o grupo é formado por representantes do Nupad, Fundação Hemominas e Associação das Pessoas com Doença Falciforme e Talassemia de Minas Gerais (Dreminas) e tem como proposta discutir e elaborar ações educativas de sensibilização, enfrentamento e combate ao racismo no cotidiano dessas instituições.