Evento internacional aborda toxoplasmose congênita em MG

Em dois anos de atividade, o Programa de Controle da Toxoplasmose Congênita de Minas Gerais, coordenado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) em parceria com o Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da UFMG (Nupad), soma mais de 200 mil gestantes rastreadas para a doença e cerca de 280 mil amostras de sangue analisadas. Os números, referentes ao período de fevereiro de 2013 a abril de 2015, foram apresentados no V Congresso Internacional de Toxoplasmose Congênita, realizado em Belo Horizonte entre os dias 6 e 8 de maio.

O Programa foi implementado em 2013 com objetivos de estimular as gestantes ainda não infectadas pelo Toxoplasma (suscetíveis) a evitar a exposição ao parasito e a infecção, identificar e tratar as mulheres infectadas na gestação para reduzir a transmissão da toxoplasmose entre mãe e filho, bem como identificar e tratar precocemente as crianças com toxoplasmose congênita, para diminuir os agravos da doença. Para isso, a iniciativa garante a todas as gestantes de Minas Gerais a realização gratuita dos testes sorológicos para o diagnóstico precoce da doença, assim como o tratamento dos casos identificados.

De acordo com Daniel Vasconcelos, professor do departamento de oftalmologia e otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da UFMG e membro do Grupo Brasileiro de Toxoplasmose Congênita da UFMG (GBTC) – responsável pela realização do Congresso, o Programa tem hoje uma cobertura de 72% de todas as grávidas atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no estado. “Temos 4.414 unidades de saúde cadastradas no Programa, todas elas bem preparadas para a realização dos testes”, declarou durante o evento. Desde o início de 2015, todos os 853 municípios mineiros são contemplados pela iniciativa.

Daniel Vasconcelos apresenta dados do Programa de Toxoplasmose em Minas Gerais. Foto: Rafaella Arruda.
Daniel Vasconcelos apresenta dados do Programa de Toxoplasmose em Minas Gerais. Foto: Rafaella Arruda.

Pré-natal e adesão

O teste pré-natal para o diagnóstico da toxoplasmose é feito de forma simples e segura a partir da coleta de sangue por punção digital. A recomendação é que ele ocorra já na primeira visita da gestante à unidade de saúde, logo no começo da gravidez. “A idade gestacional média apontada pelo Programa para a realização da primeira coleta é de 12 semanas. Porém, o ideal é que fosse feita o mais cedo possível na gestação”, pontuou Daniel.

Caso a toxoplasmose aguda seja diagnosticada precocemente, a futura mãe passará por tratamento durante a gravidez e, se ainda assim a criança for infectada, será possível tratá-la para diminuir a gravidade das manifestações da doença. Neste cenário, o Programa de Controle da Toxoplasmose Congênita em MG acompanhou, até o momento, 337 gestantes diagnosticadas com suspeita de infecção aguda para a toxoplasmose.

Ainda, a partir de dados da primeira coleta de sangue, aproximadamente 59 mil gestantes foram identificadas como susceptíveis a adquirir a infecção na gravidez e orientadas a repetir o teste. Neste aspecto, segundo Daniel, encontra-se a principal dificuldade do Programa: “Apenas 40% destas gestantes aderem totalmente ao protocolo e realizam todos os exames previstos para controle da toxoplasmose ao longo da gestação”.

De acordo com a professora do departamento de pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG e também membro do GBTC, Gláucia Andrade, o Nupad tem trabalhado para identificar as dificuldades enfrentadas pelos municípios e investido em ações conjuntas para solucioná-las. Segundo ela, que é consultora técnica do Núcleo para o Programa, a adesão das gestantes é condição fundamental para o bom desempenho da iniciativa: “O Nupad pretende, ainda, ampliar a capacitação de todos que prestam assistência ao pré-natal e trabalham com o Programa”.

Congresso internacional

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Ao longo de três dias, o V Congresso Internacional de Toxoplasmose Congênita buscou discutir os avanços no conhecimento e controle da toxoplasmose congênita e reuniu pesquisadores nacionais e internacionais da área, profissionais de saúde responsáveis pelo atendimento do binômio mãe/filho e estudantes de pós-graduação e graduação.

Organizado a partir de conferências, mesas redondas, apresentação de pesquisas em pôsteres e exposições orais, o evento contou com cinco sessões temáticas que abordaram temas como: as diferentes cepas do parasito prevalentes nos hemisférios norte e sul; resposta imunológica do hospedeiro à infecção; possível associação entre toxoplasmose e doenças neuropsiquiátricas; reflexões sobre os programas de controle da toxoplasmose congênita na Europa; desafios diagnósticos da toxoplasmose na gestação; tratamento da criança infectada e perspectivas para novas drogas; abordagem da toxoplasmose ocular e desafios para o controle da infecção no hemisfério sul.

O Congresso Internacional, realizado pela primeira vez no Brasil, foi feito em parceria com a UFMG, através do Nupad, Associação Médica de Minas Gerais e Sociedade Mineira de Pediatria, e resultou em troca de conhecimentos que contribuirão para avanços no Programa de Minas Gerais.