Fibrose cística exige dieta especial

O cuidado com a alimentação é uma das bases do tratamento da fibrose cística. Distúrbio genético identificado pela triagem neonatal, conhecida como teste do pezinho, a fibrose cística caracteriza-se pelo mau funcionamento das glândulas exócrinas que passam a produzir secreções mais espessas (muco) e de difícil eliminação. Uma vez acumuladas em determinadas áreas do corpo, essas secreções tendem a comprometer, por exemplo, o sistema respiratório e digestivo.

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No pâncreas, o muco acumulado obstrui os canais e leva à destruição do órgão, o que prejudica a produção das enzimas pancreáticas responsáveis pela digestão dos alimentos. “A consequência é a má absorção de lipídeos (gorduras) e de algumas vitaminas, o que pode levar à desnutrição. Uma boa alimentação deve ser indicada para um tratamento mais adequado”, explica a nutricionista do Nupad, Michelle Alves, que atende a pacientes com fibrose cística acompanhados pelo Programa de Triagem Neonatal de Minas Gerais (PTN-MG).

Arte: Design / TI / NUPAD.

A alimentação da pessoa com fibrose cística deve ser hipercalórica (rica em calorias), hiperlipídica (rica em lipídeos) e hiperproteica (rica em proteínas), com suplementação de vitaminas A, D, E e K. Segundo a nutricionista, alguns alimentos são indicados para aumentar as calorias da dieta, como os óleos vegetais que podem ser adicionados nas refeições. Outros alimentos da rotina diária do paciente, como pães, vegetais, arroz, macarrão e leguminosas, também podem ser ingeridos em quantidade maior. “Não esquecendo que o objetivo da dieta é manter o peso e estatura dentro dos parâmetros normais para cada faixa etária”, ressalta.

Na maioria dos casos é necessário também uma reposição enzimática para facilitar a digestão e absorção dos alimentos. Recomendadas segundo orientação médica, as enzimas devem ser ingeridas imediatamente antes do início das refeições.

Acompanhamento nutricional

Como informa Michelle, durante o primeiro ano de vida, fase escolar e adolescência o cuidado com a alimentação deve ser especial, pois são períodos de crescimento e desenvolvimento que exigem maior quantidade de calorias. Porém, o acompanhamento nutricional deve ocorrer por toda a vida: “O nutricionista é quem vai indicar o melhor tipo de alimento a ser ingerido, de acordo com a quantidade de lipídeos da dieta, e a quantidade de enzimas a serem oferecidas para melhor absorção de gorduras”.

Em todas as consultas, o nutricionista deve avaliar o peso, a estatura e o IMC (relação do peso e estatura) do paciente, além da função intestinal e ingestão de vitaminas e minerais recomendados por orientação médica. “Verifica-se ainda se a alimentação e os suplementos nutricionais estão sendo ingeridos na quantidade correta”, observa a profissional. Os suplementos, indicados quando o paciente não está ganhando peso ou estatura suficientes, são alimentos em pó ou líquidos, ricos em proteínas, calorias e lipídeos, fornecidos gratuitamente pela Secretaria Estadual de Saúde.

A nutricionista Michelle, Gabriel e a mãe Rosalina, durante consulta no HC. Foto: Rafaella Arruda.
A nutricionista Michelle, Gabriel e a mãe Rosalina, durante consulta no HC. Foto: Rafaella Arruda.

É o caso de Gabriel, 4 anos. Ele tem fibrose cística, faz ingestão diária de vitaminas e há cerca de um mês passou a usar um novo suplemento hipercalórico para ganhar peso. “Desde então, ele já ganhou 800 gramas”, conta Michelle, que acompanha Gabriel desde o nascimento. A mãe, Rosalina Barbosa, já percebe os resultados: “Antes achava ele meio tristinho, mais magrinho. Agora, está com mais energia. Come direitinho.” A família é de Monte Azul (MG) e comparece para consultas no Hospital das Clínicas da UFMG, em Belo Horizonte, a cada três meses.

Outros cuidados

Além da atenção nutricional, a tratamento da fibrose cística exige rigoroso acompanhamento de equipe multiprofissional, responsável por avaliar a saúde integral do paciente. Quanto mais cedo for iniciado o tratamento, melhor a chance de se reduzir os danos aos órgãos afetados pela doença, como pulmões, pâncreas, fígado e intestino. “São quatro pilares para o tratamento: nutrição; terapia de reposição enzimática; fisioterapia respiratória, para desgrudar o muco dos pulmões; e a antibioticoterapia precoce, para erradicar bactérias oportunistas. Com estes cuidados garantidos, a qualidade de vida será muito melhor”, conclui Michelle.

Números do PTN-MG para fibrose cística:

  • O exame de triagem neonatal para a doença é feito desde 2003
  • Cerca de 3 milhões de crianças já foram triadas em todo o estado
  • 280 crianças encontram-se em acompanhamento ambulatorial