Projeto cria expertise na atenção especializada para doença falciforme

Reunião da equipe do Projeto Atenção Especializada no Cehmob-MG – Maio/2013.
Reunião da equipe do Projeto Atenção Especializada no Cehmob-MG – Maio/2013.

Iniciativa do Centro de Educação e Apoio para Hemoglobinopatias (Cehmob-MG), o Projeto Atenção Especializada tem como objetivo gerar conhecimento sobre as diversas especialidades médicas envolvidas no atendimento às pessoas com doença falciforme. Em execução desde fevereiro de 2013, o projeto pretende produzir, no período de dois anos, protocolos de atendimento que serão utilizados na rede assistencial de Belo Horizonte e, posteriormente, em todo o Estado de Minas Gerais. O projeto consta como atividade de extensão, aprovada pelo Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e registrado no Centro de Extensão (CENEX) desta Faculdade.

A doença falciforme é uma alteração genética caracterizada pela má formação das hemácias do sangue, o que causa, dentre outras complicações, a obstrução dos vasos sanguíneos, infecções, crises de dor e anemia. Assim como os pacientes de outras enfermidades, a pessoa com doença falciforme tem direito ao atendimento nos três níveis de atenção à saúde: atenção primária à saúde (APS), representada pela rede básica e ações de prevenção e assistência; atenção secundária, com os hemocentros, clínicas especializadas, rede de urgência e emergência; e a atenção terciária, que compreende a assistência hospitalar e a alta complexidade.

Desde 1998, com a realização da triagem neonatal para a doença falciforme, conhecida popularmente como teste do pezinho, tornou-se evidente a alta incidência da doença no Estado, com o registro de um caso para cada 1,4 mil nascidos vivos. Com isso, mais pacientes passaram a buscar a rede assistencial nos três níveis de atenção à saúde.

Como explica a coordenadora executiva do projeto e supervisora técnica do Cehmob, Milza Cintra Januário, na maior parte das vezes, porém, o paciente com doença falciforme é percebido como responsabilidade apenas dos hemocentros, o que faz com que os demais níveis desconheçam ou mesmo ignorem a enfermidade: “Assim, prioriza-se a atenção secundária em detrimento de uma atenção integrada, vinculada à rede básica de saúde. A APS é a principal porta de entrada ao sistema de saúde e valoriza a atenção diferenciada ao usuário, no âmbito individual e coletivo, por isso o atendimento do paciente vinculado à rede básica é fundamental e deve ser estimulado”.

Diante dessa realidade e com a meta de se criar expertise, o Projeto Atenção Especializada busca acompanhar o fluxo de atendimento dos pacientes nas diferentes especialidades da atenção secundária, assim como trabalhar o vínculo destes pacientes com a APS.

Equipe e ações

A equipe de médicos especialistas do projeto é formada por profissionais do Hospital das Clínicas da UFMG, da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA-BH), da Fundação Hemominas e do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (Nupad) da Faculdade de Medicina da UFMG. Integram-se também, neste momento, na área de gestão e assistência do projeto, outros profissionais de saúde como psicólogos, enfermeiros e assistentes sociais.

O envolvimento multidisciplinar será ampliado durante a evolução do projeto. Um grande destaque é a participação de acadêmicos de Medicina, Psicologia e Gestão em Saúde. Dentre as especialidades envolvidas estão: oftalmologia, ortopedia, nefrologia, cardiologia, ecocardiografia, neurologia, pneumologia, gestação de alto risco e aconselhamento reprodutivo. Os profissionais médicos e enfermeiros da APS receberão atenção especial em termos de qualificação como gestores do cuidado aos pacientes.

Durante dois anos, os profissionais do projeto irão atender e acompanhar os pacientes a partir do fluxo já existente e regulado pela Central de Marcação de Consultas da SMSA-BH (SISREG). “As consultas e exames especializados continuam a ser agendados por demanda da Unidade Básica de Saúde (UBS), para garantir a assistência integral. E diante de um encaminhamento no qual o médico informar que se trata de pessoa com doença falciforme, cabe à SISREG marcar o atendimento com os especialistas do projeto”, explica Milza.

Como também explica o coordenador geral acadêmico do projeto e diretor do Nupad, José Nelio Januario, o Núcleo terá importante função na organização do fluxo de atendimento: “O Nupad, parceiro do projeto, atua como interlocutor entre a Atenção Especializada e a UBS para informar e orientar os profissionais da equipe de saúde da família sobre a importância do exame ou consulta solicitados, assim como a necessidade de acompanhamento do paciente pela APS. Queremos praticar a mesma filosofia de trabalho que é utilizada no programa de triagem neonatal, ou seja, garantir pelo Nupad um completo monitoramento do fluxo assistencial, assim como um acompanhamento constante do tratamento de cada paciente”.

A partir do conhecimento adquirido, serão propostos protocolos clínicos à Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) para utilização em todo o Estado. “Além de contribuir para a formação dos profissionais, os documentos atenderão à complexidade e diversidade da apresentação clínica da doença no Brasil. Não podemos aplicar automaticamente os protocolos americanos para doença falciforme à nossa realidade”, afirma o coordenador.

O coordenador da CGSH, Guilherme Genovez, e a coordenadora nacional para doença falciforme, Joice Aragão, conhecem o equipamento de oftalmologia Spectrallis, no Hospital São Geraldo. O aparelho é utilizado no Projeto Atenção Especializada – Junho/2013.
O coordenador da CGSH, Guilherme Genovez, e a coordenadora nacional para doença falciforme, Joice Aragão, conhecem o equipamento de oftalmologia Spectrallis, no Hospital São Geraldo. O aparelho é utilizado no Projeto Atenção Especializada – Junho/2013.

O Projeto Atenção Especializada está sendo acompanhado pela equipe técnica da Coordenação Geral de Sangue e Hemoderivados (CGSH) do Ministério da Saúde para avaliar sua aplicabilidade em demais estados brasileiros.

Financiado pelo Ministério da Saúde, o projeto resulta da parceria entre o Nupad, o Hospital das Clínicas da UFMG, a Fundação Hemominas e a SMSA-BH. Conta também com a colaboração da Associação de Pessoas com Doença Falciforme e Talassemia de Belo Horizonte e Região (Dreminas), da SES-MG e das Secretarias Municipais de Saúde de outros municípios.

O equipamento Spectrallis permite a avaliação tomográfica e angiográfica da retina com alta precisão e velocidade, e de maneira indolor.
O equipamento Spectrallis permite a avaliação tomográfica e angiográfica da retina com alta precisão e velocidade, e de maneira indolor.